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CAB Cuiabá não será vendida

De MARCOS LEMOS

Antonio Carlos Dallalana, diretor-geral da CAB Cuiabá, enfrenta diariamente um desafio e tanto: a gestão dos serviços de captação, tratamento e distribuição de água na capital, alvo de críticas da população e vereadores.

À frente de uma equipe de 793 colaboradores, ele conduz desde janeiro o planejamento e execução diária dos serviços da concessão, firmada com a prefeitura em 2012. Ao receber o DIÁRIO na sede da CAB Cuiabá, nas antigas instalações da Sanecap, o executivo fala sobre os gargalos e desafios, os resultados já alcançados e também sobre o relacionamento mantido com a comunidade, poder público e empresariado local.

“Nós, funcionários da CAB Cuiabá, nos orgulhamos de estar empreendendo uma verdadeira revolução na história do saneamento da capital mato-grossense. Abastecimento de água a toda a população e esgoto tratado: esse será o grande legado da CAB Cuiabá à cidade e ao cidadão”, atesta o gestor.

DIÁRIO – Qual é o consumo médio de água na capital?

Antonio Carlos Dallalana – O consumo de água diário por habitante em Cuiabá é de 458 litros. Pra se ter uma ideia, a média considerada ideal pela ONU é de 110 litros ao dia e o consumo médio no Brasil é de 166 litros. E o que explica essa desproporção? Pela experiência que temos no setor de saneamento, há dois fatores principais. O primeiro é o cultural. A cultura de redução de consumo e uso mais consciente da água é ainda algo muito recente no Brasil e no mundo, ainda mais em regiões com fartura de recursos hídricos como Mato Grosso. O segundo fator é a deficiência na rede de abastecimento de Cuiabá, com tubulações muito antigas. Isso gera perdas de água substanciais, que estamos combatendo desde que assumimos a concessão, em abril de 2012.

DIÁRIO – Mas o que está sendo feito efetivamente, em termos de investimentos, para melhorar o serviço de abastecimento de água, que sabidamente é deficitário?

Dallalana – Já investimos em menos de três anos de concessão um montante de R$ 370 milhões e instalamos mais de 200 quilômetros de novas tubulações, além de renovar os sistemas de captação, tratamento e distribuição de água e tratamento de esgoto. Há milhares de famílias que antes não tinham acesso à água regularmente ou que se servia de uma água totalmente insalubre, oriunda de gambiarras que eram verdadeiros riscos à saúde, e que agora contam com água todos os dias e com qualidade.

Diário – E qual é a real dimensão da rede de consumo e abastecimento de água da cidade?

Dallalana – A CAB Cuiabá atende hoje exatas 195.539 residências. A água que tratamos e distribuímos todos os dias chega às torneiras de 588.902 pessoas. De crianças a idosos, de donas de casa a profissionais liberais, professores, advogados, onde há um escritório, uma escola, uma empresa ou um lar, lá também está a CAB Cuiabá. A concessionária já atingiu o patamar de 28.211 novas ligações de água desde o início das operações, em 18 de abril de 2012. A cada nova ligação, o cidadão tem mais acesso a serviço público, à saúde, à qualidade de vida, a mais cidadania. De tudo isso que já foi implantado, executado, temos o seguinte balanço: nós já conseguimos mais que dobrar, em apenas 3 anos, o universo de residências com abastecimento contínuo de água. Nós assumimos a concessão em abril de 2012 numa capital de Estado com um índice de 30% da população com acesso a água contínua e já saltamos esse índice para 75%, em março de 2015. É um avanço robusto e inegável, desafiador em termos de engenharia de saneamento.

DIÁRIO – Há rumores de que a CAB Cuiabá será vendida. Isso é verdade?

Dallalana – Isso não tem qualquer fundamento. O que ocorre, de fato, é que a companhia CAB Ambiental, que detém a empresa CAB Cuiabá, está aberta a receber investimentos e ampliar suas operações. Essa prospecção e seleção de investidores parceiros são feitas com muito critério e absoluta seriedade, avaliando indicadores de sustentabilidade financeira e outros quesitos corporativos. É importante também esclarecer à população que uma concessão de água ou esgoto não se vende ou se desfaz simplesmente nem se delega a terceiros. Concessão de serviço público não é algo banal, corriqueiro. Nem muito menos moeda de troca. Qualquer pessoa que diga o contrário é mentirosa.

DIÁRIO – Mas o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, parece querer desfazer a concessão, a julgar pelas declarações que ele tem dado à imprensa…

Dallalana – Nós entendemos o papel institucional que o prefeito exerce, enquanto representante maior do poder concedente, em fiscalizar nossa atuação como empresa concessionária de serviços públicos delegados. Aliás, friso aqui que a CAB Cuiabá quer ser fiscalizada, com o mais absoluto critério e rigor técnico. Somos absolutamente tranquilos em relação, dada a equipe técnica que temos, os estudos que fazemos e o trabalho executado por nossas equipes no dia a dia. Algumas pessoas podem não ter a dimensão disso, mas são nada mais nada menos que 793 pessoas dedicadas diariamente a levar água de qualidade ao cidadão. Ou seja, são 793 empregos gerados na cidade. É trabalho sério, que desempenhamos de cabeça erguida.

DIÁRIO – Como o senhor encara a substituição da Amaes por uma nova agência reguladora, a Arsec?

Dallalana – Tudo que se faça para aprimorar a fiscalização e análise técnica de serviços prestados ao poder público, à população, vamos encarar com bons olhos. Sendo Amaes ou Arsec, a CAB Cuiabá segue à disposição para quaisquer esclarecimentos sobre as operações, serviços e nosso planejamento.

DIÁRIO – Já houve conflitos entre CAB Cuiabá e empreiteiros locais. Como está essa relação institucional hoje?

Dallalana – Alguns construtores relutam em entender que a CAB Cuiabá não atuará em projetos, em condomínios, que não atendam a todas as normas de planejamento urbano, que não tenham todas as licenças, conforme determina a lei. Nós cumprimos expressamente o que preconiza a lei. Há tensões pontuais, obviamente, quando uma construtora quer dar celeridade a determinado projeto, colocar determinados conjuntos de casas, apartamentos ou terrenos à venda no mercado, incluindo residenciais contemplados pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Nós entendemos essa expectativa comercial, de mercado, mas somos e continuaremos sendo estritamente técnicos em relação a isso. Cuiabá sofre as consequências do crescimento desordenado e chegou a hora da sociedade cuiabana discutir isso com maturidade, equilibrando interesses dos empresários e da população.

DIÁRIO – E como o senhor avalia a relação entre a CAB e o consumidor? Está mais pra uma água turva ou transparente?

Dallalana – Metáfora curiosa (risos). Primamos por uma relação totalmente transparente com o nosso cliente maior, o cidadão cuiabano. Isso inclui um call center com todo o aparato necessário e dezenas de atendentes, disponíveis 24 horas por dia. A antiga Sanecap tinha apenas uma mesa e uma linha de telefone para atender o consumidor. Ninguém é imune a críticas e sabemos que ainda há muito a ser feito. No Procon, por exemplo, há todo um empenho de nossa equipe para dirimir conflitos e solucionar as reclamações. Pra você ter uma ideia, só em 2014, essas conciliações culminaram na concessão de descontos da ordem de R$ 733 mil aos consumidores reclamantes. Esse valor seria o suficiente, numa equivalência a consumo nominal, a um volume de 177 mil metros cúbicos de água, o suficiente para abastecer 29,5 mil pessoas ou quase 9 mil imóveis da capital. Porém, veja bem, não é sempre que chegamos a soluções conciliatórias, mais harmônicas. Há casos em que comprovadamente há erro por parte do consumidor. Nós enfrentamos, por exemplo, milhares de casos de fraudes, como ligações irregulares de água e de esgoto. E nesses casos, há medidas administrativas e judiciais cabíveis para resguardar os direitos da CAB e também da sociedade, que não pode pagar a conta de que implanta um “gato” ou comete outros tipos de irregularidades.

DIÁRIO – O senhor diria que há uma “cultura do gato” na cidade?

Dallalana – Não. Eu diria que há algumas pessoas que, irresponsavelmente e infelizmente, têm essa prática. Muita gente não se atém que gato de água, ligação clandestina na rede de esgoto, que gato de energia, é crime. Quando detectamos esses casos, acionamos a Perícia Técnica do Estado (Politec) e a PM, instituições que têm nos dado toda a retaguarda e segurança para nossa atuação. Há todo um procedimento técnico por trás das notificações administrativas e também dos boletins de ocorrência, quando se fazem necessários. A CAB Cuiabá zela pelo rigor da lei. Infelizmente, todos pagam a conta por esse crime. A conta financeira e os transtornos operacionais como o abastecimento irregular em função da rede que é fraudada e deteriorada criminosamente.

DIÁRIO: O senhor tomaria a água que sai direto das torneiras de Cuiabá?

Dallalana – Claro, com absoluta segurança, a água que fornecemos que sai do cavalete. Por lei, as empresas que atuam com produção de água no Brasil, sejam elas estatais ou concessionárias que vieram da iniciativa privada, são obrigadas a tratar a água e entregá-la em total estado de potabilidade. Ou seja, a água precisa sair da estação de tratamento 100% potável para o consumo humano. Isso quer dizer que ela chega 100% potável na torneira da casa do cuiabano? Infelizmente, não temos como assegurar isso, porque há variáveis que impõe riscos à potabilidade da água e, consequentemente, à saúde, como canos deteriorados dentro das residências, vazamentos na rede provocados por tubulações antigas e ainda por “gatos”, entre outros tipos de ações danosas à água.

DIÁRIO – O senhor soube que aqui em Cuiabá já houve candidato a prefeito que se viu numa saia justa de tomar água suja?

Dallalana – Me contaram esse episódio. Não sei ao certo quem foi o candidato, mas uma coisa posso afirmar: a água tratada pela CAB Cuiabá a partir de abril de 2012 é potável, produzida dentro dos mais rigorosos padrões de qualidade. Ao assumirmos a concessão, herdamos uma estrutura da Sanecap visivelmente deteriorada, com poucos equipamentos. Isso inegavelmente afetava a qualidade da água que ia para o cidadão.

DIÁRIO – Então o senhor está dizendo que a Sanecap era ineficiente?

Dallalana – Veja bem, não se trata de uma crítica minha, pessoal, ou um ataque à Sanecap. Trata-se de números e fatos. Como eu disse há pouco, nós já investimos, em menos de 3 anos de operação, R$ 370 milhões. Isso é muito dinheiro para cidade de qualquer porte, para qualquer prefeitura, Estado ou para qualquer empresa. Quando Cuiabá teve um investimento tão robusto em saneamento, em qualidade de vida, num espaço tão curto de tempo? Isso não é arrogância, são números, comprovados e que estão acessíveis com total transparência a toda a população. Nós, funcionários da CAB Cuiabá, nos orgulhamos de estar empreendendo uma verdadeira revolução na história do saneamento da capital mato-grossense. Abastecimento de água a toda a população e esgoto tratado: esse será o grande legado da CAB Cuiabá à cidade e ao cidadão.
Fonte: Diário de Cuiabá

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