Polícia relaciona executivo da Copasa a fraude em eleição

O atual vice-presidente da Copasa, Antônio César Pires de Miranda, conhecido como Juninho da Geloso, está envolvido no suposto esquema para favorecer o então candidato a governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), nas eleições de 2014. O diretor da companhia responsável pelo tratamento e pela distribuição de água é citado em inquérito da operação Acrônimo, da Polícia Federal, cujo foco é justamente investigar hipotéticas fraudes na campanha petista. O trecho do documento ao qual o Hoje em Dia teve acesso revela que Juninho da Geloso, ex-prefeito de Rio Acima pelo PR, foi o responsável por receber as remessas de material gráfico irregular de Pimentel. A conclusão só foi possível pelo pontapé inicial da Acrônimo, em outubro de 2014, quando o empresário Benedito de Oliveira Neto, o Bené, foi detido em uma aeronave particular no aeroporto de Brasília, com R$ 116 mil em espécie.

Naquela ocasião, além do dinheiro vivo, foram apreendidas planilhas de ordens de serviço e notas fiscais relacionadas à produção do material gráfico do petista. Nos documentos, estava também a orientação para que o material fosse entregue ao atual vice-presidente da Copasa.

“No campo dados adicionais da Nota Fiscal número 10413 tem-se a assertiva ‘Contato: Antônio César Pires de Miranda’”, diz trecho inquérito da operação da PF. O endereço indicado era sempre o mesmo, na avenida Cristiano Machado, 9.382, região Norte de Belo Horizonte.

Os investigadores apontaram que no local existia a empresa Minusa Tratorpeças. De fato, o estabelecimento ainda é sediado no endereço, mas o destino final da mercadoria era, na verdade, o vizinho. “Funcionamos aqui há anos, sem interrupção. Aqui ao lado é que funcionou um comitê do PT nas eleições de 2014”, afirmou à reportagem o gerente da Minusa, Marcos Machado.

No local indicado pelo funcionário existe hoje uma igreja, o Santuário de Filadélfia. A advogada da instituição, que pediu para ter seu nome preservado, esclareceu que o espaço foi alugado em março deste ano. Abordado pela reportagem, o dono do galpão confirmou ter alugado a estrutura para o PT .

Crime Eleitoral

Conforme já publicado pelo Hoje em Dia, a Polícia Federal investiga supostos desvios para abastecer a campanha petista, em Minas, no ano passado. “Fernando Pimentel forneceu dados inverídicos na prestação de contas das eleições em 2014”, afirma inquérito (leia mais ao lado).

O Ministério Público Eleitoral também investiga os hipotéticos abusos. Nessa quinta (26), começou a perícia técnica das contas de Pimentel, já reprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral e hoje aguardando julgamento de recurso no TSE.

Questionado, o advogado de Bené não respondeu até o fechamento desta edição. Já o de Pimentel, Pierpaolo Bottini, disse que preferia não se manifestar. Juninho da Geloso também foi procurado na Copasa e na empresa da qual é proprietário, mas não retornou as chamadas.

Além da Gráfica Brasil, outra editora da família de Bené foi usada em esquema, revela a PF
A Gráfica Brasil, empresa que já foi de Bené e hoje da família do empresário, não atuou sozinha no suposto esquema envolvendo o material gráfico de campanha do atual governador Fernando Pimentel. Segundo relatório da Polícia Federal, a Editora Colorprint, também sediada em Brasília, fez parte das fraudes.

Investigações da operação Acrônimo revelam “dois métodos empregados nessa dissimulação” do material gráfico (veja infográfico). Um deles consistia na emissão de ordens de serviço pela Gráfica Brasil a partir das quais era produzido “um expressivo montante”.

“Porém, a nota fiscal correlata a tal ordem de serviço discrimina apenas parte do que foi de fato produzido”, diz documento da PF.

A outra forma era por meio da Colorprint. A empresa, que já teve no quadro societário parentes de Bené, recebeu oficialmente dinheiro do PT mineiro. No entanto, a editora subcontratou a Gráfica Brasil para produzir o material. A PF estima que foram assim produzidas mais de 85 milhões de unidades.

A nota fiscal correspondente à ordem de serviço, a exemplo do outro método, trazia quantidade de material (santinhos, santões e cartazes) e valores abaixo do que havia, de fato, sido produzido e pago pelo PT de Minas.

Gasto real da campanha de Pimentel com impressão de material teria sido de R$ 6 mi
Relatório da operação Acrônimo aponta que o gasto real da campanha de Fernando Pimentel ao governo de Minas, em 2014, teria sido de R$ 6,2 milhões. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT de Minas informou que gastou R$ 4,7 milhões em produção de materiais gráficos diversos para o principal candidato do Estado.

“Um método ilícito de realização de despesas – qualificado inclusive como crime eleitoral – engendrado para ocultar ilegalidades, notadamente a extrapolação ainda maior do limite de gastos e a existência de recursos cuja origem se desconhece”, classifica o procurador regional eleitoral, Patrick Salgado.

Suspeitas

Na sede da Colorprint, a Polícia Federal apreendeu sete notas fiscais cujo tomador de serviço foi o PT de Minas. Duas delas seriam de remessa, apenas para acompanhar a mercadoria durante a sua entrega.

Outras duas notas seriam referentes a serviços realizados, na verdade, pela Gráfica Brasil. Com a apreensão de planilhas no jatinho, em 2014, a PF fez o cruzamento de dados e concluiu que foram produzidos 85 milhões de unidades ao preço de R$ 781 mil.

No entanto, as notas declaradas ao TSE mostram um total de 32 milhões de unidades, que teriam custado ao PT R$ 177 mil.

Quanto às notas fiscais da Gráfica Brasil, a PF também aponta discrepância entre a quantidade produzida e declarada (veja infográfico). Até mesmo as notas de remessa estavam em discordância com as respectivas notas faturadas: 820 unidades a menos.

http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/policia-relaciona-executivo-da-copasa-a-fraude-em-eleic-o-1.362862

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