saneamento basico

Sabesp prioriza interligação e especialistas criticam medida.

Companhia diz que priorizou interligações de represas por custos e prazos. Especialistas criticam medida e defendem reúso para segurança hídrica.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) decidiu priorizar obras de interligação para aumentar a produção de água na Região Metropolitana de São Paulo durante a crise hídrica e deixou para segundo plano o projeto das estações de produção de água de reúso, as EPARs, com tratamento de esgoto para abastecimento humano.
As EPARs integram um pacote de oito obras proposto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) à presidente Dilma Rousseff (PT) para aumentar a oferta de água para abastecimento em São Paulo. A Sabesp, no entanto, concluiu que “há outros projetos de engenharia que podem gerar resultados mais eficientes com custos menores e entrega em menos tempo”.

Especialistas em recursos hídricos ouvidos pelo G1 afirmam que produzir água de reúso para consumo humano é o caminho mais sustentável para a crise porque resolve, ao mesmo tempo, o tratamento de esgoto e o abastecimento da população. Os pesquisadores criticam a postura da Sabesp em insistir na interligação de sistemas de mananciais como algo prioritário e como a melhor alternativa para a segurança hídrica.
“As obras de interligação podem dar um alento à crise, mas estão longe de mostrar um futuro realmente seguro quanto à disponibilidade hídrica. O reúso daria uma destinação nobre a parte do nosso esgoto e reduziria a captação nos mananciais. Infelizmente, ele continua no papel”, disse o professor da USP e da Uninove Pedro Côrtes, que também é geólogo.
Em novembro de 2014, o governador Geraldo Alckmin prometeu a instalação de duas EPARs, nos sistemas Guarapiranga e Baixo Cotia, entre o fim deste ano e o 1º semestre de 2016, mas o projeto depende de liberação de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Atualmente, não existem estações que tratem água de esgoto para abastecimento da população na Grande São Paulo, apenas para uso industrial.
O G1 solicitou ao Ministério das Cidades a atualização do andamento do processo para repasse de verbas do PAC, mas até esta publicação a solicitação estava em avaliação na área técnica.
A Sabesp informou que coleta 87% do esgoto e que trata 68% do volume captado nas cidades atendidas pela companhia pela Região Metropolitana de São Paulo. Na capital paulista, a coleta é de 94% e o tratamento, de 75%, segundo a empresa. A capacidade instalada de produção de água de reúso na Grande São Paulo é de cerca 840 litros/segundo, de acordo com a companhia.

Projetos x segurança hídrica
Segundo a Sabesp, a proposta das duas EPARs foi concebida para aumentar a segurança hídrica. A estação para reforço do Guarapiranga deve gerar 2 mil litros por segundo e aumentar a disponibilidade de água do sistema em 14%, com tratamento de esgoto captado na altura da Ponte Transamérica, no Rio Pinheiros. A obra custará $ 250 milhões.
Já a EPAR para reforço do Baixo Cotia tem como proposta aumentar a disponibilidade hídrica em 100% do Baixo Cotia, produzindo 1 mil litros de água/segundo também com esgoto tratado. A obra deve custar R$ 275 milhões. De acordo com a Sabesp, no entanto, foi concluído que há outros projetos de engenharia que podem gerar resultados mais eficientes com custos menores e entrega em menos tempo.
A companhia citou como exemplos o aumento de produção do Sistema Guarapiranga na Estação de Tratamento de Água (ETA) Boa Vista com uso de membranas ultrafiltrantes e captação do Rio Guaió para ampliar a capacidade do Alto Tietê, ambas prontas, além da interligação entre os sistemas Rio Grande e Alto Tietê, principal obra contra a crise para 2015 e que deve ficar pronta em setembro. Juntas, elas totalizam 6 mil litros/segundo.

O professor da Escola Politécnica da USP Ivanildo Hespanhol e referência em reúso de água, no entanto, criticou a avaliação da companhia para priorizar as obras de interligação de sistemas e disse que não vê outra solução para São Paulo que não seja o tratamento do esgoto para abastecimento da população (reúso direto ou indireto).
“Estão tentando resolver o problema a curto prazo. Ainda estão na gestão da crise”, afirmou Hespanhol. O especialista explicou que atualmente o reúso é uma técnica real e mais barata que as obras de interligação feitas pelo governo paulista. “Se a gente fizer um ‘retrofit’ das estações existentes, com tratamento com membranas ultrafiltrantes, seria possível tirar a dependência dos reservatórios e fornecer água com qualidade aos reservatórios”, completou.
No começo de julho deste ano, o governo paulista assinou um contrato de financiamento para quatro projetos para o aumento da produção de água de reuso e tratamento de esgoto, mas voltado apenas para a indústria e serviços. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, vai investir R$ 48,3 milhões e a Sabesp aplicará mais R$ 12 milhões, totalizando R$ 60,3 milhões de recursos.
Plano de contingência
O especialista em recursos hídricos Pedro Côrtes também afirmou que é preciso apresentar um plano de contingência com as soluções previstas para os próximos anos e em quanto tempo teremos o abastecimento regularizado na Região Metropolitana de São Paulo.

O documento que vai orientar como os prefeitos devem agir na seca em caso de desabastecimento da população foi classificado como um “papelório inútil” pelo governador Geraldo Alckmin. O plano já foi concluído, mas não foi apresentado para as prefeituras.
O documento é uma exigência dos 39 municípios que compõem a região metropolitana e integram o Comitê de Crise. Com a previsão da Sabesp em mãos em caso de abastecimento, os prefeitos irão encaminhar às Câmaras dos seus respectivos municípios um projeto de lei para multar o consumidor que desperdiça água.
“Vai ter um Plano de Contingência, mas não vai ser utilizado porque não vai faltar água embora muita gente torça”, afirmou Alckmin em entrevista no dia 3 de julho no Palácio dos Bandeirantes. O governador não informou quando será entregue aos municípios. O G1 também procurou a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos, mas a pasta não divulgou data para a apresentação do plano.
O Plano de Contingência deveria ter sido entregue às prefeituras no fim do mês passado, no entanto, isso ainda não ocorreu. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria do Estado de Recursos Hídricos, o texto foi consolidado somente no último dia de junho porque ainda faltavam contribuições de algumas cidades.

Fonte: G1

Últimas Notícias: