saneamento basico

AS RUAS DAS CIDADES

As avenidas, ruas e becos tem relação direta com a vida nas cidades, não só por estarem muitas vezes associadas a sua história, mas por serem também uma espécie de retrato da administração municipal. Todos ficam satisfeitos quando transitam de ônibus, carros, motos, bicicletas ou mesmo a pé por ruas de reluzentes pavimentos de asfalto negro com suas faixas brancas, amarelas, vermelhas e azuis até, brilhantes e reflexivas à luz, a mostrar que a cidade é bem administrada pois tem suas vias principais com pavimento liso e plano, mesmo que a coleta seja sofrível e o tratamento do lixo não funcione ou meia hora de chuva alague todas as ruas e paralise o trânsito, além dos desmoronamentos de barreiras que matam pessoas e causam danos materiais sérios.

Cidades sem saneamento básico ou pior, sem perspectivas de oferecer tais serviços a seus habitantes pelo menos em médio prazo, simplesmente por que focam sua gestão em modelos tradicionais de financiamento e contratação de obras, como o PAC, cuja característica é ter apenas data de início e indefinição quanto ao seu final e funcionalidade.

Assim, a bela visão de pavimentos perfeitos não pode ser a regra geral nas cidades brasileiras de qualquer porte, simplesmente porque esta imagem deveria ser o resultado de uma série de ações integradas de planejamento e gestão, ponto culminante de um processo estruturador da urbanização das cidades e não uma satisfação aos cidadãos como a querer dizer que tudo vai bem, porque não há buracos nas ruas principais. Entretanto, sob qualquer pavimento há um sistema dinâmico e ativo composto por tubulações que transportam água potável ou de chuva, esgotos e outros líquidos específicos, com o agravante de que as tubulações para esgotamento sanitário, abastecimento de água e as galerias de águas pluviais por exemplo, estão em sua maioria, com a vida útil ultrapassada há um bom tempo.

É injusto medir o desempenho de uma administração pública pela quantidade de buracos existentes nas ruas ou pelo asfalto todo rachado ou pelas ruas de terra nas periferias ou por avenidas que passam trinta invernos alagadas com poucos milímetros de chuva ou por menos de 50% da população atendida com sistemas completos de esgotamento sanitário. Os danos causados aos pavimentos por um vazamento ou extravasamento de esgoto ou colapso de tubulações e galerias, são efeitos da visão equivocada do Governo Federal que não disponibiliza recursos para recuperação de unidades operacionais, redução de perdas, eficientização da operação e substituição de tubulações, preferindo criar malabarismos técnicos para mascarar obras de melhorias como se fossem ampliações.

Optando confortavelmente por desconhecer que obras de saneamento em cidades, não podem se pautar por modelos tradicionais de planilhas e contratos que desconheçam os riscos decorrentes da imprevisibilidade das interferências e surpresas de subsolos pouco conhecidos que levam a obras mal executadas ou inacabadas e a pavimentos cronicamente defeituosos. Para ter um futuro melhor que o presente, é preciso realizar hoje projetos e obras com modelos diferentes e que envolvam na solução do problema aquele que executa as obras, não como mero “construtor pago” e sim como sócio do contratante na construção e na gestão do que for construído.

Eng. Civil Álvaro Menezes –  Vice-presidente da ABES

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