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E se o Cantareira secar?

Na semana passada, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, disse ao SPTV 1ª edição que o principal sistema de abastecimento de São Paulo, o Cantareira, pode secar nos próximos meses (veja entrevista). No pior cenário, seca em março, segundo Kelman, que assumiu o comando da empresa estatal de água e esgoto neste mês, em meio a grave crise.
Mas o que acontece se realmente acabar a água do Cantareira? O G1 ouviu o que dizem especialistas e o governo.
Veja abaixo os principais cenários caso o reservatório entre em colapso:

MARÇO PODE SER LIMITE: Projeção do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres do Ministério da Tecnologia aponta que se a chuva for somente 10% da média histórica durante o verão, a água do volume morto do Cantareira pode se esgotar em março.

Caso a chuva mantenha a média de dezembro (74,9% do previsto para o mês), a água pode acabar em junho, segundo a projeção. O presidente da Sabesp não descartou essa previsão. Hoje, o governo do estado só tem autorização para usar a água do segundo volume morto.

APOSTA É O 3º VOLUME MORTO: A Sabesp aposta que sim. Além de contar com a economia da população, a empresa diz que ainda estuda usar o 3º volume morto disponível na represa Atibainha.

“O uso depende também de aprovação da Agência Nacional de Águas (ANA). O volume corresponde a 41 bilhões de litros de água”, informa a Sabesp. “Seria o último recurso”, afirmou o presidente da Sabesp, Jerson Kelman. Em outubro do ano passado, o governador Geraldo Alckmin chegou a citar o 3º volume morto como alternativa, mas negou que a medida estivesse nos planos.

O professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em recursos hídricos Antônio Carlos Zuffo diz que, em caso de o sistema se esgotar, a Sabesp pode ter que distribuir apenas o que entrar nas represas, por chuva ou pelos rios que abastecem os reservatórios. “Sem o volume morto, só seria possível usar o volume de água referente à vazão de entrada no sistema, que depende do dia e das condições climáticas”, disse Zuffo.

PRAZO E ALTERNATIVAS NÃO SÃO CLAROS:

A Sabesp não tem previsão de quanto tempo pode durar a terceira cota do volume morto. A empresa também não divulga previsões sobre os outros sistemas.

O professor da Unicamp e especialista em recursos hídricos Antônio Carlos Zuffo diz que uma estratégia para garantir água para a população pode ser limitar o uso no comércio e indústria. “Mesmo antes de entrar no rodízio, pode haver suspensão de uso da água que não seja abastecimento humano, como comercial e industrial”, afirmou o especialista.

CAPACIDADE DOS DEMAIS SISTEMAS É LIMITADA:

Segundo dados da Sabesp, ainda que fosse possível uma interligação plena, os demais sistemas têm capacidade limitada e são bem menores que o Cantareira:

Cantareira
Capacidade: 1,4 trilhão de litros
Nível em 20/01/14: 5,6%
Abastece 6,2 milhões de habitantes

Alto Tietê
Capacidade: 520 bilhões de litros
Nível em 20/01/14: 10,2%
Abastece 4,5 milhões de habitantes

Guarapiranga
Capacidade: 171 bilhões de litros
Nível em 20/01/14: 38,5%
Abastece 5,2 milhões de pessoas

Rio Grande
Capacidade: 112 bilhões de litros
Nível em 20/01/14: 68,8%
Abastece 1,2 milhão de pessoas

Alto Cotia
Capacidade: 16 bilhões de litros
Nível em 20/01/14: 28,5%
Abastece 410 mil pessoas

Rio Claro
Capacidade: 13 bilhões de litros
Nível em 20/01/14: 22,6%
Abastece 1,5 milhão de pessoas

SABESP NEGA POSSIBILIDADE IMEDIATA:

O Cantareira já atendeu 9 milhões de pessoas. Com o remanejamento e interligação, hoje fornece água para 6,2 milhões. “A falta de chuva atinge todos os mananciais. Neste momento, não temos possibilidade de aumentar o remanejamento de vazão”, disse o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato.

Ainda segundo Massato, as possibilidades seriam o Alto Tietê e Alto Cotia, que operam com nível baixo, além do Sistema Guarapiranga, cujas obras ainda estão em andamento. “Existem várias propostas, mas que foram projetadas para um período em que voltaria a chover mais”, afirmou.

SISTEMA É ALTERNATIVA DE LONGO PRAZO:

Ampliar a produção de água do Guarapiranga é uma alternativa viável, segundo especialistas, mas a médio ou longo prazo, pois não foi projetado para uma demanda tão alta.

“Seria necessário fazer toda a ampliação de novas estações de tratamento. E isso é uma obra demorada”, explicou o geólogo Pedro Luiz Côrtes, que também é pesquisador da USP e membro do programa de Mestrado em Gestão Ambiental da Uninove.

“A última solução seria lançar água bruta direto na rede, mas isso contamina a água e ela vai com cor. A única coisa que dá para fazer é desinfetar, mas não deixa a água potável”, completou o pesquisador da Unicamp Antônio Carlos Zuffo.

BILLINGS PODE SER ALTERNATIVA DE LONGO PRAZO:

A represa Billings, que armazena principalmente água para geração de energia elétrica, possui 600 bilhões de litros, mas de péssima qualidade por causa da contaminação por esgoto. Ela é apontada por especialistas como alternativa.
A Sabesp admite que estuda formas de tratar e distribuir essa água. Mesmo assim, não há indicativos da companhia de abastecimento de que o volume da Billings possa ser usado de imediato na atual crise.

“Tecnologicamente não há empecilho [para usar essa água], mas há um problema de prazo e o segundo é o transporte. É uma caixa d’água enorme, uma reserva fundamental”, explicou o presidente da Sabesp.

O geólogo Pedro Luiz Côrtes diz que falta estrutura para uso imediato. “A Billings poderia ser considerada, mas tem níveis de poluição consideráveis, e você precisa desenvolver essa estrutura que não é feita do dia para noite”, defendeu o geólogo.

ALTERNATIVA É OPÇÃO PONTUAL:

A curto prazo, o uso de água subterrânea poderia ser uma alternativa pontual e para uso restrito durante a crise, segundo o geólogo Pedro Luiz Côrtes. Ele usou como exemplo um estudo de geociência da USP que apontou ser possível extrair 10 mil litros de água/segundo com poços abertos pela Sabesp.

“A Sabesp teria a possibilidade de abrir esses poços em um prazo de 30 dias e o tratamento dessa água é muito mais simples que um volume morto, por exemplo, mas para abastecer locais emergenciais, como escolas e hospitais”, explicou o especialista.

“Poços profundos só seriam interessantes para atender uma demanda urgente e pontual”, completou o professor titular de recursos hídricos do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (PHA) da Escola Politécnica da USP, Mario Thadeu Leme de Barros. Perfuração indiscriminada de poços pode comprometer outras regiões que dependem da água profunda.

Existem uma proposta do governo de explorar uma área de afloramento do Aquífero Guarani no interior do estado e reforçar o abastecimento em cidades da bacia Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) com a perfuração de 24 poços profundos. Isso, segundo o governador, aliviaria o Sistema Cantareira. Não há previsão para início das obras.

ESTRATÉGIA ESTÁ PARCIALMENTE EM ANDAMENTO:

O reaproveitamento da água da chuva e esgoto tratado aliviaria a dependência do Cantareira, principalmente em locais com alto consumo, como indústria e irrigação, segundo Gesner Oliveira, ex-presidente da Sabesp (gestão 2007 a 2010) e sócio de uma consultoria especializada em recursos hídricos.

“A reciclagem para a água me parece a melhor alternativa, em particular a situação de reúso do Sistema Guarapiranga e Alto Cotia”, disse. O governo do estado anunciou no ano passado obras de implantação das Estações Produtoras de Água de Reúso (EPARs) para aumentar a disponibilidade hídrica nos dois sistemas em 14% e 100%, respectivamente, com tratamento de esgoto.

Se o prazo prometido for cumprido, a primeira obra – do Guarapiranga – ficará pronta em novembro deste ano.

“Tudo isso precisaria ser feito com o ritmo que o problema requer. Essas obras precisariam de uma abordagem especial e deveria haver uma aceleração. Com a água de reúso, os resultados surgem em um período curto, ainda em 2015”, completou o ex-presidente da Sabesp.

 

 

 

Fonte: G1

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