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Na origem do colapso hídrico de São Paulo, barragem vira pó

Por volta das 15h de quinta-feira, depois de os termômetros marcarem 35ºC nas ruas de São Paulo, nuvens começam a se formar a cerca de cem quilômetros ao norte da capital paulista.

Ali, no coração do sistema de abastecimento Cantareira, onde fica a barragem do Rio Jaguari, as primeiras gotas de chuva prometem uma reviravolta no tempo e na vida dos paulistanos. Mas o chuvisco é tão leve e rápido que nem chega a ser detectado pelo medidor pluviométrico.

Próximo à margem, persistem sulcos de até 40 centímetros no solo rachado pela fuga da água, que se esvai como se São Paulo fosse um ralo aberto. Quem acompanha diariamente a variação no nível de um dos principais rios que abastecem a metrópole ressequida, como o morador do município de Vargem José Mauro da Silva, 33 anos, sabe que as águas começaram a escapar há bem mais tempo do que muitos imaginam.

— Há três, quatro anos, o nível do rio chegava até aquelas árvores ali, perto do barranco — diz Silva, apontando para um ponto localizado cerca de 200 metros acima da margem atual do Jaguari.

Desses 200 metros, quase a metade secou neste ano. Como resultado do progressivo sumiço do rio, minguaram também os peixes que o ribeirinho costumava pescar no mesmo ponto onde hoje ele circula a pé.

— Hoje não se pesca mais aqui, porque a água ficou muito barrenta. Se continuar nesse ritmo, vai desaparecer, não tem outro jeito — lamenta o morador, que está construindo uma nova casa próximo à antiga margem. Ele não sabe se aprontará o imóvel antes de o manancial sumir.

As medições oficiais da Sabesp ajudam a confirmar as impressões de Silva. Tomando-se por base o dia 31 de outubro, o volume armazenado no Cantareira era de 69% em 2011, caiu para 56% no ano seguinte e 37% em 2013, até chegar aos atuais 12%. Ninguém tomou providências para contornar a crise que se aproximava. Agora, no entorno da barragem e em cidades como São Paulo, a mais rica e populosa do país, orgulhosa de sua pujança, há gente com medo de passar sede.

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