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Utilização de volume morto completa 1 ano e prejudica turismo na Cantareira

No último ano, Sidney Trindade, 50, aprendeu a identificar as chuvas “boas” como chuvas “altas e volumosas”.

Ao longo da grave estiagem paulista, desde o início do ano passado, passou também a acompanhar diariamente em seu computador as previsões dos radares meteorológicos e os volumes de água trazidos pelos rios até o sistema Cantareira, o maior reservatório de São Paulo.

Trindade é dono de uma pousada e de uma marina às margens do manancial, em Bragança Paulista, e viu seu faturamento despencar 70% com a atual crise hídrica.

Entre tantos dados, ele olha abismado para o índice de janeiro de 2011, quando a maior represa do Cantareira recebeu 273 mil litros de água por segundo (quantidade de água quase quatro vezes a consumida por toda Grande SP).

No último mês de janeiro, esse mesmo índice foi de 8.500 litros por segundo (a média para o mês é de 63 mil).

O Cantareira segue em situação crítica. Na semana passada, completou um ano de dependência da água do fundo das represas e, neste domingo (17), operou com 15,2% de sua capacidade para “sair” do volume morto precisa atingir 22,7%.

“REPRESA FEIA”

“A estiagem reduziu muito o número de turistas, pois a represa ficou feia, né? Fora isso, os clientes ainda acham que a água realmente vai acabar e que não terão como navegar com os barcos e jet skis.”

Dos 60 chalés com contratos mensais de aluguel, que nesta época do ano estariam ocupados, 35 estão vagos. De 40 funcionários, restaram apenas 17. Nas quatro marinas, que guardavam 220 embarcações, há apenas 90.

“Dos clientes que perdi, acredito que 30% estão vendendo seus barcos. Esse cliente não volta mais, vai escolher outro hobby”, afirma. Um dos clientes de Trindade que vendeu sua embarcação com a seca foi o patrão da caseira Marlene Mazzoco, 47.

“Os patrões venderam a lancha porque ficaram com medo de atolar nos bancos de areia. Em tempo de cheia isso aqui parece praia, cheio de barco. Agora fica vazio.”

Perto dali, também às margens da represa, Giuseppe Júnior, 27, fechou seu pequeno camping e abandonou os planos de aumentar o negócio para uma pousada e marina. “Tínhamos o espaço para receber até 20 pessoas. O plano era aumentar a estrutura até montar uma pequena pousada, mas a seca adiou tudo.”

Ele conta que a paisagem da represa com seu solo seco e encostas expostas, sem vegetação, foi afugentando aos poucos os turistas. Além disso, às vésperas do último Carnaval, Petruso viu que os poços da propriedade estavam secos e não abasteceriam os clientes que já haviam reservado espaço no camping. “Ligamos para todos e desmarcamos”, afirma. Desde então, o camping está fechado, e o mato crescendo.

 
Fonte: Folha de S. Paulo

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