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Com queda dos reservatórios, crise hídrica deve perdurar em São Paulo

Com queda no nível dos reservatórios e poucas chuvas, a Região Metropolitana de São Paulo deve continuar a enfrentar grave crise no abastecimento de água. O Sistema Cantareira opera na reserva técnica, e tem armazenados 12,3% da capacidade total das represas. São necessários 131,4 bilhões de litros de água para o sistema voltar ao índice positivo.

Em 26 de julho, o sistema tinha 10,4% de déficit. Em um ano, o Cantareira perdeu 85,14 bilhões de litros de água, queda de 6,7 pontos percentuais em relação ao volume total. Outro sistema importante, o Alto Tietê, também opera em níveis baixos, apenas 14,4% da capacidade. Há um mês, esses reservatórios tinham armazenados 18,5% da capacidade.

Diante desse cenário e caso os reservatórios se esgotem, a redução mais severa do abastecimento de água se torna urgente, na opinião do professor de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Décio Semensatto. Para ele, a situação poderia ter sido evitada com a adoção de medidas estruturais.

– Da água que sai do reservatório até chegar na torneira, cerca de 30% se perde na distribuição. Perdas na distribuição são aceitáveis, fazem parte do sistema. Mas, em países com o mesmo nível de desenvolvimento econômico do estado de São Paulo, esse nível de perdas está em torno de 10%. A gente chegou agora ao final de agosto, praticamente no pico da estação seca. A gente tem ainda entre 45 dias e 60 dias para passar com seca. E a gente tem menos água do que tinha no ano passado. Talvez a gente não esgote todos os reservatórios neste ano, pois por determinação do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), a saída de água foi bastante reduzida e a gente está consumindo menos, por meio de racionamento – disse o professor.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) reduziu a pressão do abastecimento. Com isso, os consumidores recebem água por algumas horas do dia, e redistribuiu a demanda entre os sistemas. Antes da crise, os reservatórios do Cantareira eram usados para atender mais de 9 milhões de pessoas, atualmente pouco mais de 5 milhões. Ganharam importância os sistemas do Alto Tietê e Guarapiranga, que juntos fornecem água para mais de 10 milhões de habitantes.

Na região das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), a situação também é grave, de acordo com o coordenador de Projetos do Consórcio PCJ, José Cezar Saad.

– A situação continua crítica. Estamos em um grau de criticidade bastante grande, visto que os rios estão com baixas vazões, o índice pluviométrico está baixo – ressaltou sobre os mananciais que fornecem água para 5 milhões de pessoas em 62 municípios. Desses, 58 estão no interior paulista e quatro em Minas Gerais.

Na avaliação do técnico, a crise hídrica deve durar pelo menos mais um ano.

– Não há uma grande perspectiva de melhora. Segundo os institutos de meteorologia, a situação de poucas chuvas deve continuar por mais um ou dois anos – acrescentou.

Para lidar com o problema, Saad defende tanto ações individuais, como os consumidores captarem água da chuva, e iniciativas do Poder Público, como o desassoreamento de rios e novas barragens.

– Pequenas ações, bem distribuídas, vão dar bons resultados para a bacia de forma geral – destacou o coordenador.

Municípios do interior do estado adotam racionamento

Os baixos níveis dos reservatórios têm levado cidades do interior paulista a adotar o racionamento de água. Pelo menos 10 municípios do interior já estão com restrições na distribuição. Em Araras, onde vivem aproximadamente 119 mil pessoas, estão sendo feitos cortes no abastecimento duas vezes por semana. Parte da cidade fica sem água nas terças e quintas-feiras, a outra metade nas segundas e quartas-feiras.

Apesar da severidade do sistema adotado pela cidade, na verdade, o racionamento atual significa uma melhora no regime de fornecimento. Entre dezembro de 2014 e abril deste ano, o município chegou a conviver com o rodízio, alternando 12 horas com água, para 36 horas de torneiras secas. A partir do redirecionamento da captação, dando mais peso à retirada de água do Rio Mojiguaçu, que agora é responsável por 80% do abastecimento, foi possível abrandar o racionamento.

A situação é semelhante em Valinhos, na Região Metropolitana de Campinas, onde a interrupção do fornecimento é feita duas vezes por semana, desde junho. A cidade foi dividida em quatro áreas que se alternam nos cortes. Apenas no centro da cidade a situação é diferente, onde a interrupção é feita somente aos domingos.

Em outras cidades, a medida começou a ser implementada mais recentemente. Faz duas semanas que os cerca de 32 mil habitantes de Aguaí começaram a sofrer corte de água. O abastecimento é interrompido diariamente, das 8 às 15h, devido à seca que afetou o Rio Itupeva, responsável por fornecer água para o município.

Casa Branca, cerca de 230 km distante da capital paulista, adotou a interrupção no fornecimento na terça-feira da semana passada. Às terças e quintas-feiras, a água é cortada entre às 8h e às 16h. Um ida antes, na segunda-feira, Vargem Grande do Sul intensificou o racionamento. Desde o dia 7 de agosto a água era cortada das 12 às 17h. Agora, o fornecimento é interrompido às 19h, e só é reestabelecido às 9h do dia seguinte.

Em Saltinho, o fornecimento também está sendo cortado durante a noite. A água só está disponível das 8 às 20h. O racionamento começou no final de março. Em Américo Brasiliense, a medida é um pouco mais branda, afeta 10 bairros, incluindo Centro. O corte acontece diariamente, das 13 às 16h.

Parte dos municípios vem racionando água desde o ano passado. Em Morro Agudo, há cerca de 550 quilômetros da capital, a interrupção ocorre todos os dias, das 13 às 16h. Na vizinha Orlândia, os cortes no fornecimento começaram em janeiro de 2014. Os 43,7 mil habitantes só tem água das 6 às 17h. Em São Sebastião da Gama, que vem alternando períodos com e sem racionamento, desde o início do ano passado, os moradores só têm água durante a noite.

Em Mauá, estão sendo utilizados oito caminhões-pipa para garantir o abastecimento nas regiões mais altas da cidade. A Saneamento Básico do Município de Mauá compra água da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que tem reduzido o fornecimento. A meta da companhia estadual é que o consumo na Região Metropolitana de São Paulo seja reduzido em 30%.

Santo André vive em iminência da adoção do rodízio. Para evitar a implementação do sistema de racionamento escalonado, alternando dias com e sem água, a Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa) intensificou a campanha pelo uso racional da água. Mas a autarquia, que também compra água da Sabesp, avalia que o aumento do consumo no verão pode fazer com que a medida seja inevitável.

Fonte:  Agência Brasil
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